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Reunião na Biblioteca

sábado, 2 de abril de 2011

Morte em vida


Cassio Camilo Almeida de Negri

O rico mercador, tendo chegado aos sessenta anos, tinha tudo, ou quase tudo o que um homem pode desejar.
Ganhara muito dinheiro vendendo joias, diamantes, rubis, a marajás na Índia e emires árabes, mas apesar disso, sentia-se insatisfeito.
Sentia-se não realizado e, portanto, muito infeliz.
Era rico, saúde perfeita, esposa e filhos maravilhosos, mas, infeliz!
Resolveu, então, fazer doações aos pobres; construiu hospitais, escolas, creches, mas continuou infeliz.
Passou por várias religiões, tentou negociar com Deus, mas ainda continuou infeliz.
Resolveu deixar a família já criada e bem de vida, transformando-se em monge mendicante. Como tal, entendeu que ti¬nha uma alma, não precisando de mais nada, e foi doando tudo o que possuía, até seus bens ficarem reduzidos a uma tanga que protegia o corpo, e a uma tigela, na qual bebia água e onde colocava a comida doada por pessoas benevolentes.
Passou a se sentir melhor, menos infeliz, mas passados poucos anos, voltou a se sentir mais infeliz ainda.
Seu teto era o céu, seu lar o mundo todo, mas continuava triste como se lhe faltasse ainda uma coisa que não sabia o que seria.
Doou a tigela, a tanga jogou fora, pois ninguém aceitou, tão esfarrapada estava, no entanto continuou com aquele vazio dentro de si.
Num dia chuvoso, deitado sob uma árvore, nu, sem saúde, foi tomado de intensa febre, ficando ali jogado sem que nenhum viajante dele tivesse compaixão. O ardor da alta temperatura o fez delirar.
Viu-se leve, luminoso, amarrado a algo por um fio pratea¬do. Tentava arrebentar o cordão e se livrar daquele fardo sujo ao qual estava preso, pois sentiu que era só arrebentar tal amarra e pronto, mergulharia na felicidade
Pulou, esperneou, até voou, mas nada, pelo contrário, foi puxado violentamente em direção daquele fardo sujo, que era seu próprio corpo estendido na lama.
Ao amanhecer, com a chuva já cessada, abriu os olhos e percebeu que ainda faltava doar uma coisa que ele tinha e ainda não havia percebido, seu corpo.
Entendeu que tinha um corpo e não tinha alma, pois ele era a própria alma.
Descobrira que quem morre antes de morrer, não morre ao morrer.
Assim descobriu a felicidade em vida, procurou a tanga jogada, que ainda estava lá na beira da estrada, e desapegado de tudo, voltou sorrindo para casa, pois ainda tinha muito o que fazer.

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