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Reunião na Biblioteca

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Tesouro

O Tesouro (in Tardes de Prosa)
Cassio Camilo Almeida de Negri


Setembro de 1936. Nathan, um judeu alemão muito rico, residente em Berlin, pressentia as dificuldades que viriam com o chanceler alemão Adolf Hitler.
Sorrateiramente, vendeu todos seus bens, transformou-os em ouro e dólares, reuniu-os em um pequeno avião e em uma manhã triste e chuvosa, prenunciante da segunda guerra mundial, partiu levantando voo, ele, o piloto e seu tesouro.
Desviou o avião para o sul, pois não pretendia despertar atenções indo em direção ao norte da África; sobrevoou o deserto do Saara e seguiria rumo oeste, alcançando a América. Olhava para baixo e sorria, como quem tivesse driblado o destino. Via dunas e mais dunas, espalhando suas sombras arredondadas ao por do sol africano. Pareciam até uma dessas pinturas modernas que admiramos, mas não sabemos o que são.
No entanto, o vôo baixo permitiu que uma ave se chocasse com o motor e o avião, deixando um rastro de fumaça negra, caiu na areia quente.
O piloto morreu, o tesouro se espalhou e Nathan se viu com a perna quebrada, sob o sol que morria no horizonte.
A areia ainda estava quente e no céu já brilhava a lua quarto crescente, junto com uma grande estrela, como aquele símbolo do islamismo.
O grande negociante e empresário ajeitou alguns sacos de dólares como colchão e ali passou a noite. Dormia e acordava alternadamente, pois o frio intenso do deserto já se fazia sentir junto com a dor na perna quebrada.
O céu claro e repleto de estrelas, naquele momento foi apreciado como nunca havia sido antes. Assim passou a noite.
O horizonte avermelhado anunciava o sol, que durante o dia o castigou. Conseguiu esconder-se sob os sacos de dinheiro. A sede o assediava, a dor judiava e, no céu, o astro rei fazia a areia quase enrubescer.
Deitado, sua mente voltou à época da infância, lembrou-se dos dias felizes de menino rico, do pai já falecido, da mãe e dos irmãos que abandonara na Alemanha.
Conforme a sede o castigava, pensava que daria todo aquele dinheiro por um copo de água, mas não tinha ninguém com quem negociar. Então, negocia com Deus, prometendo que daria parte do seu tesouro para os pobres.
Mais um dia se passa e parece que Deus não queria aceitar o negócio.
Ofereceu todo o tesouro, mas o negócio não se efetivou.
Passaram-se quatro, cinco dias, e via miragens de copos de água gelada, riachos refrescantes onde enfiava as mãos e ...jogava areia quente na cabeça.
Delirando, recordou-se que, quando garoto, seu maior tesouro era um pião que não saía do seu bolso. Depois, foi uma bicicleta que ganhou do avô, mais tarde uma motocicleta BMW e o Mercedes Benz que ganhou do pai.
Anos depois, seu maior tesouro foi a joalheria montada com o próprio trabalho, o banco do qual era o principal acionista, o ouro e dólares que juntara. Seus tesouros foram ficando mais e mais valiosos e, naquele momento, trocaria tudo por um copo de água. Fechou os olhos e imaginou um copo, que nem precisava ser de água tão cristalina.
Anos mais tarde, um tuaregue encontrou um tesouro em barras de ouro, os dólares nem mais existiam. No meio deles, um esqueleto parecia sorrir. Teria Nathan encontrado finalmente seu verdadeiro tesouro?

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