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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Era Uma Vez na Itália

Era Uma Vez na Itália
Eloah Margoni


O felicíssimo retorno de um amigo libanês, o qual conheci na Itália (e tinha eu motivos para acreditar que estivesse morto, no Líbano), trouxe a motivação de remexer em gavetas de armários e nas da mente. Delas retirei as fotos de Valenzano, onde morei, próximo a Bari. Também saíram lembranças que mereceram esta crônica. Quanto ao amigo, hoje mora na Arábia Saudita com uma bela família, e tem negócios na China. Não sei agora, mas a Itália era um país machista então. Não por acaso o feminismo pegou forte ali. Como poderia ser diferente? Morávamos no sul ademais, mas viajávamos bastante. Às portas dos anos 80, florescia o já citado movimento, cujo grito de guerra era: "Tremate, tremate, le streghe son tornate" (tremei, tremei, as bruxas voltaram!). O aborto acabou sendo legalizado ali. Aqui nem se discute o assunto ainda. No Brasil, por outro lado, ainda vivíamos na ditadura militar, à época. O partido comunista tinha projeção também lá na Itália e fizemos alguma amizade com nossa profesora de italiano, que fazia parte do referido partido; ela, uma italiana de Bari. Participamos de uma passeata de protesto por causa de um casal comunista, assassinado a tiros defronte à sede do partido. A passeata foi pacífica ( tudo isso para porem, agora, Berlusconi no poder!). Nas ruas ainda reconhecíamos os "capi", plural de "capo", chefões, cabeças da máfia, que andavam com grandes anéis de pedras, que eram jóias, e bengalas com castões dourados. Os carros paravam para que eles atravessassem. Dons Corleones não eram incomuns então, ao lado do cenário de Vitório de Sicca, de Tornatores, nos vilarejos e nas partes antigas das cidades... O partido comunista de Bari contratara Augusto Boal, que morava em Portugal então, exilado, para dar um curso de uma semana, lá mesmo em Bari, das técnicas do "teatro do oprimido". Meu marido na época e eu fomos convidados a participar, e acorremos lá. Foi muito bom! E ele, Augusto Boal, era um doce! Tenho maravilhosa lembrança deste teatrólogo, e senti sua morte, ocorrida há não tanto tempo. O curso culminou com uma cena de "teatro invisível", feito na estação ferroviária central. Era uma pequena peça montada, na qual questionava-se o direito das mulheres lerem uma revista “masculina”, sem serem incomodadas. Cada qual tinha um papel, mas ninguém nas ruas sabia disso. Uma moça, italiana “moderna”, acabava discutindo com uma estudante/atriz vestida de preto e num papel muito moralista. O meu, era o de comunicar aos passantes a história que acontecera... Acharam-me boa atriz, mas não me lembro tão bem de minha atuação em si. Anos depois, com o grupo de estudantes de medicina, repetimos a técnica do teatro invisível na porta da catedral em Campos dos Goytacazes, RJ, onde morei e estudei; cidade esta reduto do movimento TFPista, na ocasião. Lá, as mulheres não podiam entrar de calças compridas nas igrejas. Montamos a cena: uma moça tentava entrar e provocava um incidente e uma discussão pública dos valores. Deu certo. Saiu até nos jornais locais. Fiz o papel da moça insistente e atrevida... Mas antes, na Itália, éramos vigiados, se éramos!. Militares mais "jeitosos" andavam disfarçados por lá, pelo exterior, só para monitorizarem os brasileiros fora do Brasil. Fomos contatados por um cara de uns 30 anos, gay aparentemente, que gostava de artes, mas que, sem dúvida era um militar. Era evidente que nada tínhamos em comum com ele e vice versa, e seu contato constante não nos deixava dúvidas... Ele nos procurou de início no Instituto de Agricultura de Valenzano, onde morávamos, e tentou fazer marcação cerrada. Mas nós o evitávamos. Esse é um tópico que pode ser contado novamente em outra crônica. De momento, estamos na Itália dos anos passados, com suas ruas desconcertantes, com toda nossa juventude e capacidade de sonhar. No Brasil, infelizmente, ainda a ditadura militar existia, mas lá, asas da liberdade...Então, voávamos.

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