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Reunião na Biblioteca

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Aconteceu num Natal

Aconteceu num Natal
Cassio Camilo Almeida de Negri

Era inicio de dezembro. O menino de rua, que vagava pelas ruas do centro da cidade, estava feliz em seus 8 anos. Nesse mês, as noites não seriam tristes e solitárias e sim movimentadas e alegres. As lojas estavam abertas muito enfeitadas, iluminadas, alegrando sua vida vazia.
Perambulava descalço, os pés com as solas grossas e os calcanhares rachados, devido à proteção que a mãe natureza lhe dava, ao tentar formar uma sola natural resistente ao asfalto escaldante, espinhos e cacos de vidro que sempre teimavam em perfurá-la.
Um calção esfarrapado e uma camisa do Corinthians descorada, onde cabiam dois dele, aconchegavam seu corpo magro com cascão no peito e pescoço onde, ao esfregar os dedos, rolavam “bananinhas” de sujeira.
Todas as noites, uma felicidade preenchia seu ser, ao se misturar com a multidão que andava pra lá e pra cá num entra e sai das lojas e que ele adotara como seus pais, mães, tios, e até mesmo irmãos.
Sempre era encontrado na porta da loja, sentado na calçada, rindo sozinho assistindo televisão, qualquer que fosse o programa.
As lojas, todas enfeitadas com papais noéis, árvores de natal, sinos, renas e luzes, muitas luzes multicores piscavam intermitentes.
Ficava um pouco triste quando o relógio marcava 22 horas e as lojas cerravam suas portas, as luzes se apagavam e ele voltava à solidão quando o último transeunte deixava a rua.
Deitava no papelão debaixo da marquise, tirava os dois braços das mangas e enfiava-os para dentro da camisa do Corinthians, bem junto ao corpo, pois este dezembro à noite estava um pouco frio para quem ficava na rua. Nada porém insuportável.
Naquele dia, um tristeza imensa tomou conta do pequeno. As pessoas passavam apressadas e mais alegres do que nunca. Notou que as lojas começaram a fechar mais cedo e ainda com o sol brilhando. Às 18 horas já não havia nenhuma aberta e ninguém perambulando pela rua. Lágrimas correram dos seus olhos triste. Era o dia 24 de dezembro. Só lhe restava se recolher. Notou na sarjeta, onde ficava o carrinho de cachorro quente, um pão abraçando a salsicha com muita maionese. Como estava quase inteiro e só tinha uma mordida, apanhou e o devorou rapidamente, pois estava com muita fome. Foi para seu papelão, tirou os bracinhos das mangas da camisa do corinthians, aconchegou-os junto ao corpo e dormiu sentado abraçando as pernas.
Começou a sonhar que caía num abismo totalmente escuro, sem nenhuma luz. A queda, parecia não ter fim, e de repente, percebeu que tudo ia se iluminando. Luzes etéreas brilhavam intensamente sem ofuscar, cintilando por toda a parte conseguia ver cores vibrantes além do espectro luminoso, além do ultra-violeta e aquém do vermelho.
Via anjos brilhantes que acenavam à sua passagem em queda. Não viu nenhum papai Noel, nem árvores de natal, nem renas. Sua velocidade de queda foi diminuindo e pairou no ar. Foi suavemente depositado em uma manjedoura dourada, forrada de palhas macias. À sua frente, três reis inclinaram a cabeça quando tocou a palha. Olhou para trás e viu um homem e uma linda mulher, que deduziu, serem seu pai e sua mãe. À sua frente, um bolo multi-iluminado por mais de duas mil velinhas era oferecido a ele por um anjo tão refulgente de luz, que até teve que desviar os olhos.
Estendeu os braços, cortou a primeira fatia, que ofereceu à sua mãe. No dia 25, a cidade acordou tarde, e as margaridas, ao iniciarem a limpeza das ruas centrais, encontraram o menino encolhido, enfiado na camisa do Corinthians, morto, intoxicado pela maionese estragada, mas sorrindo...

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